sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Uma mãe, um saquinho, uns papéis e um pouco de choro.

Dona Josefa chegou um pouco depois do almoço. Trazia uns papéis na mão, e uns documentos dentro de um saquinho plástico, desses que agente guarda tomates no supermercado.
Esperou a vez dela, e veio ao meu guichê.
- Moço, é que a minha filha faleceu, e eu continuo recebendo essas cobranças aqui...- fala a mulher com cara de avó, enquanto me mostra a Certidão de Óbito da filha falecida aos 38 anos, e um boleto do Visa.
Leio o atestado de óbito, e nele está escrito em letras garrafais, como causa mortis, Síndrome da Imunodeficiência. Respiro fundo.
Ela volta a me explicar o que vem ocorrendo. Fala das faturas ( todas de menos de cem reais), do sofrimento da filha, da doença, do preconceito, da filha que não era puta e que nunca soube como pegou a doença. Mas fala principalmente de como a filha, antes de morrer, pagou cada centavo do empréstimo que ela havia feito pra reformar a casa em que morava com a família.
Dona Josefa começa a chorar.
Tomo-lhe os papéis da mão, e rápidamente começo a explicar-lhe como fazer para não receber mais as faturas. Me noto falando pausadamente, com uma doçura que eu não tenho. Na verdade, enquanto eu falo - e ela limpa as lágrimas - meu cérebro engana o coração, que em conluio com os olhos, insiste em querer chorar também. Eu não vou chorar.
Dona Josefa vai embora, com seus papéis dentro da bolsa, e os documentos da filha dentro de um saquinho. A filha, essa também vai com ela. Mas não vai na bolsa...vai dentro daquele coração de mãe, enorme que só ele.

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