quinta-feira, outubro 22, 2009

Ensaio sobre a cegueira sindical.

Sabe qual o grande problema dos movimentos sindicais?
A cegueira.
São cegos. Todos eles. Simplesmente cegos.
Sindicalistas deixam de trazer ganhos pra classe que representam, por que insistem em olhar o mundo sob o seu ângulo.
Observam o mundo, e fazem exigências, sob sua ótica, que muitas vezes é marxista, e em outras é tão mercantilista quanto Adam Smith.
Sob sua cegueira, os ditos representantes dos trabalhadores acusam Lula ( o presidente) de ter virado as costas para a sua classe de origem. Lula não virou as costas para suas raízes, ocorre que ele agora é presidente da república, e não mais um dirigente sindical. Lula agora é Governo. Lula agora está do outro lado da mesa. Foram-se os tempos de sindicalista...
Foi-se também o tempo em que a burguesia desejava se afastar do Estado. A cada dia que passa, Estado e capital se aproximam cada vez mais. A cada dia que passa, o Governo se afasta do povo, e ruma em direção ao capital.
Mas os ditos sindicalistas não enxergam isso. Para eles, Lula deveria virar as costas para o capital, e governar para os nossos 14 milhões de miseráveis. Seria o justo, mas não é o real.
No mundo real, o Governo busca proteger o capital financeiro. Fodam-se os miseráveis.
Não há CPI contra fome, ou o desemprego, ou o caos na saúde pública. Mas há CPI contra o MST*, contra o PAC, contra a Dilma Roussef...
Hoje ouví muito a expressão "traidores da classe trabalhadora". Falavam principalmente de Lula e Maria Fernanda, presidenta da Caixa Econômica Federal.
Maria Fernanda, que é funcionária de carreira da CEF, é tida como traidora por não conceder benefícios aos bancários, ou ceder às pressões do sindicato. Mais uma vez a cegueira sindical entra em ação.
Maria Fernanda representa uma empresa. Ela é o patrão, não o funcionário.
Apesar de ter vindo da base, Maria Fernanda não compõe a base. Não mais. Maria Fernanda agora compõe uma outra categoria: a dos banqueiros.
E o erro do sindicato está justamente em acreditar que bastaria ter saído das bases, para que houvessem benefícios. Ledo engano.
Gastam mais tempo reclamando da pseudo-traição à causa operária, do que planejando um movimento grevista forte e coeso. Sentam-se à mesa, achando que suas probostas são o ápice de uma justiça social sonhada por muitos. Outro ledo engano.
Tomo por base a última campanha salarial dos bancários.
Dizem ter mobilizado toda a bancada potiguar em Brasília, em prol dos bancários. Em nada ajudou. Ao que parece, a soma dos parlamentares potiguares é políticamente nula. E ainda falam em vitória....
Chingam Lula e Maria Fernanda, como se eles fossem os culpados. Mais um, em uma sucessão de ledos enganos.
A culpa de todas as perdas da classe trabalhadora, são os sindicalistas e sua cegueira sindical.
Dispostos a tudo para provar que o atual sistema é falido, negligenciam seus próprios interesses classistas.
Na luta para derrubar um Governo, negligenciam sua própria classe. Transformam uma luta classista, em uma luta partidária. Tornaram-se verdadeiros chutes nos pés.
E ainda bradam a plenos pulmões, que militam nesta cegueira a 20, trinta anos....acusam-se de pelegos. Mas falta-lhes coragem.
Coragem para manter uma posição conquistada. Coragem para abrir mão de seus cargos comissionados e suas verbas de gabinete. Falta coragem para ir votar.
Falta coragem para ser aquilo que seus discursos queriam que fossem.
O sonho acabou, e com ele, a chance de mudar o mundo.

*este blog, e o autor deste texto, nada pensam em favor do MST. Muito pelo contrário.

4 comentários:

Alexandre Disraelly disse...

Post ducaraio. Parabéns, muito oportunas suas palavras amigo.

Ulla Saraiva Dantas disse...

Texto sensato e pé no chão... quem dera nossos "representantes" também gozassem dessas carcterísticas...

... A nós cabe o amargor da derrota, e do desrespeito!

Fawller disse...

Sem contar que os bancárias amargaram 8 anos de FHC sem um reajuste sequer, e os sindicatos foram esfacelados, ao passo em que no governo Lula os bancários voltaram a ser valorizados. Esquecem ainda, os sindicatos e alguns bancários, que os professores deste país morrem de fome pelos parcos salários, herança maldita de décadas de desvalorização e que tiveram, também, nos últimos 7 anos, um pouco da dignidade resgatada.
Eu pagava o sindicato para não ter que ouvir as "viagens" de alguns, além de não ter que ouvir respostas insanas para perguntas pueris, como o porquê de os sindicalizados (principalmente as lideranças) se sentem em determinado momento traídos e, ao invés de tentar obter o comando do sindicato do qual fazem parte pelas vias legais, tendem sempre a "abrir uma dissidência" e fundar um novo sindicato, de modo a enfraquecer um todo que já não era todo, mas apenas um resquício do que já foram ou significaram...

Bony Daijiro Inoue disse...

Valeu galera!
;)

 
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