Aos olhos de um menino.

Vendo o resultado dos jogos do fim de semana, me lembrei de uma passagem bem bacana da minha infância: a descoberta da religião.

Eu me lembro que o meu pai sempre foi flamenguista, pelo menos desde que eu me lembro dele.

E me lembro dele me dizer que eu também era flamenguista.

Bem, eu sabia que éramos japoneses, e que o Japão ficava depois da África, que ficava depois de Minas Gerais, que por sua vez era do outro lado duma ponte na cidade da vovó.

Mas flamenguistas era outra história. Onde ficava o Flamengo?

- Flamengo não é um lugar, é um time. Você precisa torcer pra ser flamenguista!

- E o que é que agente torce?

- Torcer, meu filho, é ter fé no time. É acreditar que ele vai ganhar...- respondia meu pai, sempre calmo.

- É igual a acreditar em Deus e em Jesus?

- Não...rapaz, Deus não existe...- papai continuava calmo.

Eu não costumava perguntar nada pro meu pai, porque ele me respondia com muita calma, e eu me achava meio burro, e terminava mais confuso do que esclarecido.

E então eu crescí achando que flamenguismo era uma religião. Igual ao comunismo, só que mais bacana, porque sempre que rolava um "culto" de flamenguistas, era num campo de futebol lotado, com bandeiras, foguetes, jogo de bola....

E sempre que algum colega de escola perguntava a minha religião, eu dizia que lá em casa éramos flamenguistas. Menos a minha mãe, que não era nada. Vovô era comunista. Vovó era budista. A outra avó era católica.

Eu até achava bacana, porque dava pra ser flamenguista e católico, flamenguista e evangélico, flamenguista e comunista...e outras combinações que só existem na cabeça de um menino de cinco anos.