terça-feira, maio 26, 2009

Sobre a morte e o que sobra da vida

Ontem me peguei pensando sobre a morte. Não na morte socrática, mas na minha morte.
Me peguei pensando em como seria a minha morte. Não no ato em sí, mas nos acontecimentos posteriores.
Me peguei pensando em quem choraria. Não no dia, mas nos meses seguintes.
Imagino que alguns anos depois, alguns amigos sentados em alguma mesa de bar lembrariam de mim. Creio que a lembrança viria após alguma piada infâme. Ou algum comentário jocoso sobre a pornografia da vida.
Minha família sentiria a minha falta por alguns meses. Mas se lembrariam de mim pra sempre. De repente, alguém batizaria um filho com o meu nome...
Muita gente lamentaria a partida. Só isso: lamentariam, e seguiriam suas vidas. Acho que a maioria faria isso. A maioria faz.
Não imagino um velório muito concorrido. É uma pena. Adoraria um velório concorrido. Casa lotada na despedida sempre é bom.
Quando George Luz morreu, mais de duas mil pessoas acompanharam o esquife: diziam que era o cara mais decente da cidade. Adoraria algo do tipo. Se bem que eu não conheço duas mil pessoas...
Imagino que a notícia da minha ida levaria alguns anos, até que todos os que me conheceram tomassem conhecimento dela.
Ás vezes me pergunto se aquela namorada da 5º série ficaria triste. Eu acho que não.
Eu também não ficaria triste com a morte dela. Na verdade, eu nem lembro dela...
Haveria uma disputa entre DeMolays, Maçons e judeus, pela cerimônia de corpo presente. Pelo menos eu espero que haja. Torço pelos DeMolays.
Alguns amigos viriam de longe, muito longe, pra dar o último adeus. Alguns outros, pouquíssimos, não iriam mesmo estando perto. Eu entendo. E respeito a ambos. Fato é, que a única presença confirmada deverá ser a minha.
Com certeza, alguém há de dizer: "mas nem parece que ele era tão velho...parece tão moço!". Espero não ter o semblante sério e enrugado. Gostaria de deixar um último sorriso, mesmo que tímido, mas ainda sim, um sorriso.
Mas como bom japonês, eu espero que no final de tudo, eu possa olhar meus ancestrais de frente, e sem vergonha da vida que eu tive. Também espero um abraço. Mas espero principalmente, que lembrem de mim como alguém que fará falta. Amém.

2 comentários:

Alexandre Disraelly disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alexandre Disraelly disse...

Muito bem escrito filho. Parabéns!!

 
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