Continuando...
"Pessoa desmedrosa e de espírito intrêmulo como poucas vezes se viu no Ocidente desde a morte de Felipe da Macedônia, percebi com a razoabilidade natural dos fortes que, se era pra fazer regime, o mais difícil não seria propriamente a abstinência de alimentos, circunstância que os iniciados hindus enfrentam piamente há milênios e os pensionistas do INSS há pelo menos quinhentos anos.
Passar fome é coisa que qualquer pessoa que ganha salário mínimo faz, excogitei. Difícil mesmo seria convencer minha mulher, cujo comportamento é tão previsível quanto o de um elétron, a me ajudar na empreitada.
Digo a vocês, caros companheiros de infortúnio, que se houvesse alternativa, enfrentaria de bom grado um cativeiro persa, onde aqueles guerreiros dóceis no máximo arrancariam meus olhos ou minha língua, ou então me deitariam em óleo fervente, a ter que obter o consentimento de minha cônjuge.
Mas, como já informei modestamente, sou bravo. E, justiça me seja feita, devo dizer que, nietzschiano, quando vou ter com minha mulher, sempre levo o chicote. E ela, agradecida, jamais perde a oportunidade de usá-lo devidamente em minhas costas. Está aí o que dá casar com gente que não compreende filosofia.
Usando, portanto, de todo o meu destemor e com as perspectivas de sobrevivência de um kamikaze, abordei-a de maneira dura e indômita:
- Benzinhooo...
- Uhm?
- A partir de hoje, vou começar um regime...
- Que bom. E vai parar quando? - disse ela, que sempre tem uma palavra amiga a oferecer.
- Eu sou um homem, mulher – indignei-me.
- Bem, você é que tá falando dos seus defeitos...
- Verás. Ou emagreço ou morro – disse, mais solene que o Rei Lear.
- Não deixa de ser uma opção. Depois de morto, todo o mundo emagrece.
- Nem todo o mundo. O Roberto Freire morreu na década de noventa e continua engordando até hoje. E então, vai me ajudar?
Precisava do auxílio de minha amásia, pois tendo o defeito de, em toda a minha vida, só ter me alimentado mesmo com comida, não possuía a mais remota idéia de como preparar coisas que fugissem a essa categoria, como verduras e legumes.
Sei diferenciar um rabanete de uma abobrinha tanto quanto um político distingue o público do privado. De maneira que, no que dependesse de mim, se fosse para comprar folhas, acabaria por adquirir uma palmeira. Que pode até não ser apetitosa mas, na hora do aperto, pelo menos é um lugar se pode fazer xixi.
Porém, porque os deuses me prevalecem e ainda há justiça no mundo (ao que dizem, não muito distante do Brasil), minha consorte aquiesceu – coisa que demorei para notar, pois não conhecia o significado da palavra.
Assim foi que, logo em seguida, dirigiu-se ao supermercado e de lá trouxe uma série de coisinhas esquisitas, com antenas, fiapos, cascas etc., que deduzi serem os alimentos saudáveis que a partir de então teria de ingerir. E, para mostrar minha boa disposição, saquei de um e dei-lhe imediatamente uma mordida.
- Isso é um inhame! – gritou minha mulher.
Mas era tarde demais. Já havia sentido os benefícios dos vegetais para minha dieta. Como num passe de mágica, perdi 20 gramas. Bom, pelo menos imagino que seja esse o peso de um molar.
quinta-feira, fevereiro 01, 2007
Aprenda a emagrecer com o Marconi Leal - II
Por Bony Daijiro Inoue às 8:56 AM
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