Vovó

Essa semana falei com a minha vó.
Foi uma conversa rápida: eu falei, ela ouviu, chorou, perguntou quando eu ia vê-la e etc...
De todos os netos, eu sou o único que mora longe, e isso dificulta as visitas.
Gosto muito dela.
Ela sempre disse que eu era o preferido dela...talvez nem fosse...mas sempre me sentí um privilegiado por isso. É legal ser o "preferido" de alguém.
Minha avó, dona Ytsuio Kojima Inoue, imigrou para o Brasil nos anos 30, vinda de Okinawa, no Japão.
Sofreu muito durante a vida.
A alguns anos ela sofreu um derrame. Perdeu TODOS os movimentos do corpo, passou meses vegetando em uma cama. Se recuperou e teve outro derrame.
Com o segundo derrame, os problemas do primeiro - que haviam sido superados- retornaram.
Hoje, passados 05 anos do segundo derrame, ela já se recuperou e quer voltar a morar só.
Ela tem essa coisa de mulher independente: morar só é algo necessário em sua vida.
Quando eu era criança, ela comprava refrigerantes e guardava na geladeira, pro caso de eu aparecer na casa dela...
Ela sempre se orgulhou de mim, mesmo quando não devia se orgulhar...
Houve uma época em que ela andava com uma foto minha na bolsa: ela mostrava pras amigas...
Budista de nascimento, se converteu ao Cristianismo por volta dos 50 anos de idade.
Durante a segunda guerra, ela perdeu o rádio de casa pro governo de Vargas. Os japoneses residentes no Brasil não podiam ter rádios, dentre outras coisas. Vargas temia haver espiões na extensa colônia nipônica em solo tupiniquim.
Tenho muito orgulho dela.
Apesar de tudo o que ela passou, ela nunca desistiu. Pra ela, o sofrimento prescede uma grande vitória, seja aqui, ou lá em cima.